quarta-feira, 31 de outubro de 2007

E quando o povo dizia
Seria oito ou oitenta
No fundo bem sabia
O que só podia ser
Era sempre exagerada
Se sentia confortada
De viver pelo extremo
Menina, mulher e peixe
Criatura iluminada [de arte]

(Conheça o Desmantelo Blue)
Enquanto poetas fazem poesia, tropeço nela. E sigo bem.
Era assim que deitava
Quase sempre encolhida
[ou seria enroscada]
Para abraçar o sono
E receber seus sonhos
No breve leito alheio

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Só um favor. Da próxima. Não tenta entender. Isso é o melhor que pode fazer [por você]. Permitir-se não compreender aquilo que não é de se explicar. Nem tem cabimento. Mas é assim mesmo. Só sentimento. É de aceitar, ainda sim. Por isso, um favor. Vê se não pensa. E nem questiona. Entra logo. De vez. Assim sem bater.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

E se não é para falar de saudade? O que se pode dizer? Como um reflexo, vou engolir todas as palavras com fome [de emoção]. Só para não precisar me expressar mais. Mais nada.

domingo, 28 de outubro de 2007

Uma conversa boa e fiada. Tão somente. Sem pretensão do nada. Do resto, aliás, eu desisto. Ou será que eu apenas acho [isso]?

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Um encontro marcado [com o mar].
Quintessenciada. Distraída. A lágrima não sabe onde pisa. Nem vê onde cai. Mas sempre desaba assim [carregada]. Na mesma face de menina [perdida]. Em uma lua tão cheia de promessas [vagas].

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

assim só
eu já sinto
o seu cheiro
é tão familiar
para me perder
em imaginação

quarta-feira, 24 de outubro de 2007


acordou inebriada
com a mesma essência
e um sorriso nos lábios
com o sabor diferente
de açúcar mascavo

(Arte de Dani Acioli)

terça-feira, 23 de outubro de 2007

[pra mim]
era o nada
eu não sabia
o que é o tudo
o que é o beijo
o que é saudade
o que é maldade
o que é desejo
o que é a dor
ou é o pouco
ou é o resto
ou o mesmo
[de mim]
orelha direita
agulhas [muitas]
todos os furos
contra a dor

Does it make any sense?

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Em uma tarde qualquer com aquele cheiro de poeira batida, bom é sentir os pés no chão. Arrastá-los até o quintal alheio. E, de forma discreta, recolher letrinhas do varal. Desejo mesmo é usar somente isso. Assim, vou sair por ai descalça. Sentir-me invisível. Andar na rua só com as palavras certas pelo corpo. Bem vestida de poesia.
Mente completamente volátil de demandas temporais com grande probabilidade de obsolescência. Isso tudo devido a uma constante inovação. Ou seja, não dá mais para estocar tanta besteira nessa minha cabeça. Já é hora de reduzir a produção descontrolada dos pensamentos inúteis. Quase sempre guardados na caixolinha aqui.

[um rabisco bem inútil enquanto estudo gestão da produção]

domingo, 21 de outubro de 2007

quase sem querer
o já inevitável
abandono maduro
            [do fruto]
da idéia errada
da escolha exata
daquela teimosia
que bem queria
            [sempre]
ser tão insistente
na eterna bobagem
de desejar você
só para esquecer
             [de mim]
a cada momento
a cada contato
a cada encontro
             [em vão]
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor"


(Manuel Bandeira, Arte de Amar)
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sábado, 20 de outubro de 2007

Sábado para deixar todas as mazelas dentro do mar.
Diante do acaso e do caos, o nascer do sol compensa tudo.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Ter muitas razões para pedir desculpas ou pedir desculpas sem achar razões para ser desculpada? Não sei bem o que é pior.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Cansei de bancar a mulher moderna. Não quero mais tomar frente de porra nenhuma. Muito menos batida de carro [sozinha]. Já não vou mais ser a bem resolvida. Assumo que sou uma farsa. E dai?
A partir de agora, voltei a ser mulherzinha. E tenho dito.
Por vezes, eu me sinto um verdadeiro quarto de criança com o chão completamente desarrumado. Acho que sou mesmo é um brinquedo com peças que foram espalhadas para os todos lados. Daquelas que dão preguiça absurda de juntar. Tantos são os encaixes e desencaixes. Possibilidades quase infinitas. Às vezes, parece ser bem maleável. Outras, nem tanto. Mas é justamente em dias assim que penso se é possível botar ordem nisso tudo. Reunir essa tralha para colocar cada pecinha em seu devido lugar. No fundo, eu imagino mesmo é se não há uma peça perdida por ai. Uma peça essencial esquecida no tempo [ou embaixo do tapete].

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Blame it on the black star
Blame it on the falling sky
Blame it on the satellite
that beams me home


(Black Star, Radiohead)

Deixaria-se roubar daquela vez. Não sentiria medo algum. Porque, na verdade, tinha uma necessidade urgente de perder o controle. E, além de tudo, considerava-se distante demais das almas boas. Então, certas vezes, desejava ultrapassar aquilo. Caso contrário, seria uma pessoa condenada a viver sempre do mesmo lado. Mas assim não. Era a sua chance de ver como vivem as pobres almas. Todas violentadas. Era o momento de atuar em um outro papel. Lamentar-se. Era agora a vítima. Sim, era hora de ser a vítima da decisão alheia. Sabia que ao perder as rédeas abdicaria do seu destino para que outros o conduzissem. Antes, acreditava que tudo estava sempre firme em suas mãos. Mas só até aquele dia. O dia em que se faria assaltar para não morrer de culpa e tédio.

[conclusões insanas, durante sessão produtiva de análise]

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Tem o gosto
de infância vivida
de mão atrevida
de criança sabida
de mãe distraída
de bronca merecida
A colher de pau
do meu brigadeiro

(janeiro de 2006)
lunar que sou não temo o breu
mas a fresta que dá contorno
do seu perfil [boca e nariz]
a pele gelada que me arrepia
não só a espinha como a alma
leva o sossego desconhecido
pra bem longe do meu lugar

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

faz de conta
tão somente
me bastaria
se já assim
fosse o sexo
sem rótulos
embalados
por alguém

domingo, 14 de outubro de 2007

Trouble in mind, I'm blue
But I won't be blue always


(Richard M. Jones, 1927)

Das palavras farei o breve beijo que devia. Mas, naquela agonia, sempre esquecia de dar. E, acredite você, eu bem queria ser mais atenta. Mas nunca fui. Agora, invento. Sei nada de você, nem do tempo. Já do erro, até sei. Eu tento. Mas é sempre o mesmo.

sábado, 13 de outubro de 2007

Procura-se uma mente nova. Que tenha tranqüilidade para ser. Paciência de viver. Concentração para ler. Facilidade de ouvir. Consciência para agir. Liberdade de sorrir. Sanidade para sofrer.
E, principalmente, emoção de existir.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Quando criança, não pensava tanto. Pensar era tão chato.
Foi dormir com o mal-estar. Esperava que passasse. Acordou pior. Então, já era. Hora de deixar a frustração ir embora. Para longe.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Às vezes, ficar bobinha [simplesmente] já é um bem danado.
Do mundo o tabuleiro. De nós as peças. Do passado, presente e futuro as suas jogadas. E, na próxima rodada, quem sabe aprende. Com ou sem as apostas da vida. É o tempo o melhor jogador.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

[Quero] Liberdade para desligar o futuro.
Ao completar sessenta, fitou a filha [adulta]. Mas viu a garotinha. E, sorrindo, disse: - Tão bonita está a minha menina de vestidinho.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Bem mais. É a sua idéia que me fascina. A sua graça. A sua bossa. Até diria aquela farsa. Muito menos, talvez. Mas, assim mesmo, é.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Pois, nela jazia o próprio eco. E, o seu maior desespero era gritar com toda a força possível e não conseguir ouvir a sua voz. Isso porque havia bem mais que empenho naquele grito. Havia também as veias que pulavam na garganta, uma face encarnada, as palpitações aceleradas e uma visão bastante desorientada. Todos os sintomas, contudo, não seriam suficientes. Por mais inflamada de medo. Por maior que fosse a exaltação. Em cólera. Não poderia jamais produzir qualquer tipo de som. Nunca. Todo o esforço teria sempre um único resultado. O mesmo. Era o silêncio. Cada vez mais presente. Em sonhos regularmente mudos.

domingo, 7 de outubro de 2007

Daquela janela só se via o mar. Não havia nada além. Aliás, havia. Havia o belo infinito. Do lugar se via o tudo. Inclusive o além-mar.

sábado, 6 de outubro de 2007

Os impulsos se fingem de bobos antes de começar a brincadeira.
Vai lá e derrama na taça a vida antes de degustá-la.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Ouvia o silêncio. Mas a noite estava inquieta. Pegou o copo. Pôs apenas duas pedras de gelo. Era o costume. Segurava a garrafa bem firme. Não adiantava. O homem tinha as mãos trêmulas. Era um impaciente. Sempre derramava parte do líquido para fora do recipiente. Era o mesmo ritual. Isso o fazia responsável pelo som noturno que ouvia. Lembrou o quanto estava só. Era tão sozinho o tal infeliz que poderia ouvir o eco em sua alma. E, na ausência de um par, sentia aquela perturbação tola. Mas não muita. Lembrou que isso o tornava um ser humano. Igual a todos os outros tolos. Por isso, podia parar de pensar um pouco naquele momento. Ele precisava beber cada gole bem devagar. Queria é sentir o queimar da bebida na sua goela seca. A garganta já era viciada no ardor do álcool. Era essa a sua penitência. E, assim seria, diariamente.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Demorei muito a entender. Mas de fato compreendi. O teu desejo não me diz respeito. Aliás, não me diz nada. O nada além do óbvio. E o óbvio, meu bem, não precisa ser dito.
Maldita palavra "quase"
É de corroer estômagos
A consumidora das almas
E das mentes [ansiosas]

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Água morna me dá náuseas. [Vida morna me dá medo]

terça-feira, 2 de outubro de 2007

As palavras invadiram o sono
Sonhei que te pedia um trago
Esse desejo rimou com estrago
E eu nem sei mais dizer porque

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Gastei uma hora pensando em um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira".


(Poesia, Carlos Drummond de Andrade)